Coluna do Portuga - "O misterioso caso Dodô"

Por André Schmidt

Não são poucos os casos em que um jogador passa de herói a vilão em questão de segundos, mas na vida de Dodô isto é uma constante. Tratado como craque desde o início de sua carreira, sempre foi cobrado por sua inconstância dentro de campo. Foi assim no São Paulo, Santos, Botafogo... e no Vasco não vem sendo diferente. Após chegar ao clube desacreditado após dois anos sem jogar uma partida oficial, logo o atacante caiu nas graças da torcida ao marcar três gols no clássico contra o Botafogo. Foram três semanas como ídolo maior e logo começou o seu "inferno astral". Passou em branco nas finais da Taça Guanabara e o time acabou perdendo o título para o mesmo Botafogo que havia goleado. Qualidade técnica nunca faltou ao jogador e já mostrou que ainda tem capacidade de jogar em alto rendimento, então o que será que acontece com o camisa 9 cruzmaltino que não consegue se tornar realmente ídolo de nenhuma torcida?
Não sou psicólogo e nem estou aqui para fazer este tipo de análise, mas opiniões sobre o caso serão dadas e não posso deixar a minha guardada. Sempre fui fã de Dodô e continuarei sendo, pela sua qualidade técnica, mas nunca por sua portura em campo. Assim como muitos, o atleta é fruto de um geração criada na transição do futebol-amor para o futebol-comercial. Nunca foi aquele cara que se entrega em campo, briga com o zagueiro, sangra e volta a campo, chama a responsabilidade e bate no peito vibrando com a torcida. Esse não é Dodô. A frieza do centroavante quando está em boa fase é uma de suas qualidades, mas o mesmo adjetivo numa fase negra o faz parecer sem sangue, despreocupado e desconcentrado. O Vasco tem, históricamente, uma vasta lista de ídolos que ficaram marcados pela sua entrega em campo, pela luta, pela garra, pelo amor a camisa, mesmo que nos tempos modernos. Casos de Edmundo, Luisinho Quintanilha, Pedrinho, Carlos Germano, Odvan, Pimentel, Valdir Bigode e, mais atualmente, Ramón e Carlos Alberto.
Dodô está longe de ser um menino e mais distante ainda de não entender como funciona o futebol, já passou por diversas coisas no esporte. Por mais que seja profissional e comercial, o futebol sempre será tratado pela torcida de uma forma passional e raramente racional. E o atacante está muito próximo, ao menos gramaticalmente falando, de acertar. Hoje, Dodô é um exemplo de jogador passivo - que não atua, inerte. Esquiva-se na hora de lutar pelo bem de um grupo, mas é facilmente abalado quando a derrota é pessoal. Ainda acredito no seu talento e na sua volta por cima - novamente -, mas já passou da hora de se entregar de corpo e alma à uma clube, a uma torcida e o Vasco é, provavelmente, a sua última oportunidade.